segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Danilo Gentili – O Neo-opressor oprimido (Por Luiz Antônio Ribeiro)

Obviamente, o título do texto está mais para uma provocação do que realmente a expressão de uma realidade. Antes de mais nada, é preciso saber que é urgente que se supere dentro de nossa sociedade essa divisão estanque entre opressor e oprimido. Você sabe quem é o opressor e quem é oprimido? Essa lógica binária, muito comum de um marxismo velho em que separa o mundo entre patrão e operário continua, ainda, em vigor em parte de nossa elite dita intelectual, com um discurso que simplesmente repete aquilo que tem medo que se modifique. O que se quer dizer é claro: dizer que o mundo se divide em opressor x oprimido, lógica que só faz sentido para quem está do lado do opressor, é se isentar do lugar em que está, assumindo um falso e artificial lugar “por fora” desse pensamento, como se aquele que nomeia fosse capaz de ver tudo alheio à realidade e dar um diagnóstico preciso.
A luta de classes se desfez em lutas de discursos de imagens, de pensamentos tão segmentados que desmontaram a tradicional separação maniqueísta de Marx. Não há mais periferia, não há mais oprimido – todos são produtores de discursos, de pensamentos, de lógicas culturais que podem, em determinado momento, tomarem a cena como ocorre com o funk e com a cultura hip-hop. Não se trata de “arte de periferia”, ou seja, de uma margem, mas de um pensamento que forma um novo centro que, geralmente é muito mais rico que o “centro tradicional” da elite intelectual. O que se vê, na maioria das vezes, são “pensadores” acuados pelo teor de vitalidade do pensamento que vem dos demais centros, que deslocam suas visões de mundo e colocam em cheque um discurso que foi dominador (e por conseguinte, opressor) durante muito tempo. A cultura funk não precisa mais do aval da MPB para fazer sucesso e isso simplesmente assusta a MPB zona sul e os universitários voz e violão.
Isto posto, quero ressaltar o caso recente que aconteceu com Danilo Gentili. Para quem ainda não sabe, uma mulher apareceu no portal G1 de Pernambuco afirmando ser a maior doadora de leite do Brasil. No mesmo dia, como é comum no programa Agora é Tarde de Gentili, ele fez piada de diversos assuntos, inclusive com o caso da moça. Uma delas foi: “Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala. No entanto, logo em seguida, foi anunciado que a mulher estava processando o humorista, pois segundo ela, ele usou sua imagem sem prévia autorização e ridicularizou-a em público, gerando constrangimento e deboches vindos de pessoas de sua cidade.
Para mais informações sobre o caso, acesse: Link.
Em seguida, o que foi visto pelas redes sociais foi um fenômeno bastante natural na atualidade: diversas páginas com imagens de Gentili chamando-o de reacionário, idiota, estúpido, direitista, entre outras coisas, como se só o fato dele ter feito a tal piada fosse suficiente para colocá-lo no hall de pessoas a serem perseguidas. Algumas das questões levantadas eram: o humorista deve fazer piada em direção ao opressor e não ao oprimido. Aí eu pergunto: Que oprimido? Que opressor? Se a mulher se sentiu ofendida e acha que sofreu prejuízos ela tem direito de processar Danilo, mas isso não quer dizer que ele seja um cara que visou tal ofensa. Aliás, é muito comum se confundir humor com ofensa, descontextualizando-o e olhando pelo viés “material” do que foi dito e não do conteúdo que é, em si, feito para apontar uma crise do enunciado.
O humor, em linhas gerais, é nada mais do que isso: uma crise. Sua função essencial é pegar os conceitos estabelecidos, as classes, as instâncias políticas, da linguagem e do pensamento e gerar uma inoperância desses discursos. Ele é, em si, subversivo, pois não tem projeto nem proposta, não tem frentes nem defesas, não pode perceber o que é “opressor” ou “oprimido”. Quando o humor começa a indagar se é “certo” ou “justo”, ele perde sua potência, sua vitalidade e deixa, instantaneamente, de ser humor. É nesse quesito que os pensadores, principalmente da sisuda, dominadora e autoritária esquerda, não conseguem suportar o humor: ele desmorona em segundos todo o seu palavrório construído para suportar todo o tido de paradoxo e ambivalência.
Danilo Gentili tem se transformado, assim como outros humoristas, em um alvo fácil, pois se coloca com um humor muitas vezes infantil, debochado, inconsequente e que não se importa com o ataque dos verdadeiros conservadores, os patrulhadores da liberdade. Sua posição em relação ao humor é tão simples que gera exatamente a crise que a elite tanto evita: o humor é para rir. Se ele é sem graça, não ria, não veja, mas chamar um humorista de reacionário que ofende minorias é um absurdo difícil de ser digerido.
Engraçado que, em países com um nível de educação mais justo, mais equilibrado, o humor é bastante bem aceito, enquanto aqui embaixo, os intelectuais, e principalmente eles, acham o humor um mal pra sociedade. Não é a toa que somos um dos últimos do mundo em educação.

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