2 de novembro de 2013
Danilo Gentili e a amamentação: se a patrulha não agüenta, que beba leite.
Danilo Gentili se tornou alvo da patrulha
graças a uma piada. Não se junte à patrulha: hoje foi o Gentili. Amanhã
poderá ser você.
“O pior governo é o mais moral. Um governo composto de cínicos é frequentemente mais tolerante
e humano. Mas, quando os fanáticos tomam o poder, não há limite para a opressão.”
― H. L. Mencken
Danilo Gentili fez uma piada com a maior doadora de leite materno do Brasil: “Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala”.
Gentili não comparou a honrada mulher ao famoso ator pornô, e sim a
quantidade de suas doações de leite (cada qual com um sentido).
Marcelo Mansfield, colega de palco de Gentili, prosseguiu: “Aquilo não é uma espanhola, é uma América Latina inteira”, referindo-se à posição sexual. Algumas mulheres tomariam como elogio.
A doadora, a técnica de enfermagem
pernambucana Michele Rafaela Maximino, 31, está agora processando
Gentili e exigindo R$ 1 milhão por danos morais. Alega que está sendo
humilhada em público, com comparações com animais famosos por seus dotes
lactantes. Ouve xingamentos ao invés de ser parabenizada por seu
trabalho. Michele dirigia 80 km até Caruaru para doar o leite a uma
maternidade.
Michele pode se defender da forma que
achar melhor se não gostou da piada. Dificilmente parece ser lícito,
todavia, culpar um programa de TV pelo comportamento de imbecis a seu
redor. Faz muito mais sentido culpar os imbecis. Se formos francos,
todos estamos cercados de imbecis, cuja imbecilidade grassou e floresceu
assistindo certos programas de TV (alguns até com intuitos educativos).
Seria sensato, por exemplo, pedir uma participação no programa, mostrar
o seu trabalho. Até o Marco Feliciano fez isso e conseguiu parecer mais
humano.
Mas
a militância de sempre fisgou o momento para vender o seu peixe. E o
seu peixe é a agenda de sempre da esquerda: fortalecer o Estado, colocar
o máximo possível dentro do Estado, para o Estado e impedir que algo
seja contra o Estado. A fórmula é conhecida dos
totalitarismos do séc. XX, que
querem repetir no séc. XXI.
Para o Estado controlar toda a
sociedade, a sociedade precisa sentir falta de um controle absolutamente
completo da vida privada – controle que chega até aos discursos, e
mesmo às
consciências individuais, que passam a ser regidos pela autoridade coletiva, consubstanciada no poderio estatal. É por isso que hoje
não temos mais o risco de um autoritarismo, e sim de um totalitarismo. Todos querem um
Estado-Babá
que tenha poder de punir os adversários, e proteger os seus cupinchas.
Com cotas, “incentivos”, programas públicos ou, claro, dinheiro e poder
político.
Para tal, nada mais útil do que os
controladores das pessoas dizerem que elas precisam de protetores. Que
precisam de um poder concentrado para impedir que sejam agredidas,
exploradas, maltratadas – até mesmo ofendidas. O direito a se
dizer o que se quer, não importando se vai doer em alguém, é revogado,
em troca do centralismo estatal. Eles passam a decidir o que se pode e o
que não se pode dizer. É por isso que o totalitarismo é total: não
permite sequer que se pense algo contrário ao moralismo oficial.
O primeiro passo, é claro, é politizar
as sensibilidades, e fomentar uma hipersensibilidade brutal a qualquer
coisa. Ninguém mais entende uma piada como uma piada – e sim como
“continuação de preconceitos ancestrais” ou mesmo “cultura de estupro”
ou coisas do tipo. Naturalmente, o alvo primordial é o humor.
Algumas pessoas acharam justo. Muitas
que não gostam de Danilo Gentili aplaudiram o fato de verem um desafeto
tendo problemas com a Justiça. Lembra muito o poema de Martin Niemöller:
“Primeiro vieram buscar os judeus e eu não me incomodei porque não era judeu.
Depois levaram os comunistas e eu também não me importei, pois não era comunista.
Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal.
Em seguida os católicos, mas eu era protestante.
Quando me vieram buscar já não havia ninguém para me defender…”
As
pessoas podem não gostar de Danilo Gentili. É um erro fatal, todavia,
querer prejudicá-lo na primeira oportunidade, dando jurisprudência para
que centralizadores tenham mais poder sobre nossa expressão.
Imaginemo-nos sem o sagrado direito ao mau gosto. Isso é favorecer
aquela
patrulha assumida, que quer regulamentar piadas,
internet, fazer o “controle social da mídia” (até o título que utilizam
já é um eufemismo regulamentado) e que, ao contrário de desafetos
solitários de Gentili, tem uma agenda política (e mesmo partidária)
clara e construída –
funcionando como uma KGB virtual,
uma Stasi do humor, uma Securitate da hipersensibilidade, uma Tcheka
das minorias, uma Milítsia que visa só prejudicar os seus inimigos.
Todo totalitário odeia o humor, por um
fator simples: o humor tira sarro do que dá errado e do que é
francamente ridículo. Nossos esquerdistas não poderiam deixar de ser as
pessoas mais empenhadas em combater o humor. A
sátira política é a primeira coisa proibida por quem quer se levar a sério em seu trabalho de corrigir a humanidade como
Procrustes,
o batedor grego que cortava ou esticava as pessoas para caberem numa
tábua padronizada. Stalin ou Hitler odiariam piadas envolvendo seus
projetos de poder.
A comédia divina
“Bom gosto e humor são uma contradição em termos, como uma prostituta casta.”
— Malcolm Muggeridge
A comédia surge em Atenas nos festivais
dedicados ao teatro. Se nas tragédias eram encenadas peças vigorosas com
personagens lendários (a única peça grega com personagens históricos –
e, por sinal, bem pouco airosa com os gregos – é
Os Persas, de Ésquilo), as comédias tiravam sarro dos próprios deuses no principal evento religioso de uma cidade que punia o ateísmo com a morte.
Mas
o principal da comédia grega é que ela também costumava retratar os
próprios habitantes da cidade. E não como tipos, estereótipos ou
referências: seus nomes eram formalmente citados pelos atores, apontados
e indigitados no palco, para serem ridicularizados diante de todos os
cidadãos da
pólis. Mesmo figuras de renome milenar como Sócrates não deixaram de ser escarnecidas, como na comédia
As Nuvens,
de Aristófanes. Com um detalhe crucial: essas peças foram originalmente
escritas para serem encenadas apenas uma vez, em um evento que reunia
toda a cidade; É como se Shakespeare tivesse escrito Hamlet para ser
vista apenas uma vez pela humanidade. Ou seja, a comédia foi escrita
para que o próprio Sócrates em pessoa estivesse na platéia vendo seu
pensamento ser ridicularizado.
A comédia, portanto, purgava a cidade
(não à toa, era apresentada por último), e mostrava o ridículo que é não
agir como se deve agir – e mostrando como é fraca uma vida longe da
correção. Todavia, não era a moral de Estado, a moral da
hipersensibilidade da maioria e a moral dos inimigos selecionados da
correção política: era justamente a demonstração pública do que é a
hipocrisia dos habitantes, sua feiúra e sua covardia, sua malevolência e
sua burrice, expostas para todos perceberem, e delas escarnecerem.
Ao contrário do que nossas mentes
condicionadas pensam, a comédia não era para “atacar o poderoso” e
“proteger o oprimido”. Pelo contrário: nessa mesma As Nuvens,
vemos atores interrompendo um diálogo para apontar para vários
habitantes escolhidos a esmo da cidade dizendo que vêm ali alguém que
tem o que, numa tradição extremamente eufemística do grego, seria um
“ânus alargado” para caber bastante idéias. Parece que eles falavam dos
nossos blogueiros progressistas.
Será que Aristófanes receberia alguma
multa no Brasil, ao invés de ajudar a fundar a cultura ocidental, a
única que até nasce se auto-questionando e sabendo rir de si própria?
Note-se que não é apenas rir de si próprio, e sim rir da platéia. Não era o humor pausterizado que a patrulha
do que pode e do que não pode quer nos permitir hoje – o humor anódino,
o humor comedido, o humor nádegas, o humor bem comportado, o humor
funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Era humor visceral, sanguinolento, cruel como humor tem de ser, e que, tal como a tragédia, não queria
proteger
o espectador, mas incomodá-lo com o que acontece quando não se age bem.
Aliás, toda a literatura é feita para o leitor se sentir mal –
literatura para se sentir bem é auto-ajuda. Ninguém pode se sentir bem
lendo
Crime e Castigo,
O Processo,
Paraíso Perdido ou
A Divina Comédia.
Ninguém se sente o melhor ser humano do mundo e o queridinho da mamãe, o
tesouro da dona Florinda, o mais amado e o mais bacana com esses
livros. Nenhuma comédia foi feita para isso. Ou alguém se sentiu
encaminhado aos céus com o
Auto da Barca do Inferno?
E depois da comédia romana, em que de estrangeiros e escravos a aristocratas e até deuses são sacaneados, veio a commedia dell’arte mostrando
tanto a hipocrisia da nobreza quanto a falta de senso moral (que
impedia sua própria ascensão econômica) dos plebeus. Ou Moliére. Ou as
cantigas de mal-dizer. Ou os gênios supremos da sátira Jonathan Swift e
Samuel Johnson, que retratam cada cidadão das Ilhas Britânicas como
glutões e indignos.
Os totalitários odeiam piadas
“Existem três tipos de tiranos: o
tirano do corpo, o tirano da alma e o tirano do corpo e da alma. O do
corpo chama-se rei, o da alma chama-se padre. E o do corpo e da alma
chama-se povo.”
— Oscar Wilde
É Swift e sua tradição de sátira mordaz,
ácida e impiedosa que antevê o futuro Estado policial e sua eterna
busca por espiões e traidores da pátria, prevendo como seria a vida na
União Soviética e nos Estados socialistas e fascistas em pelo menos 2
séculos. Não é à toa que a esquerda e seu socialismo odeiam o humor e
buscam “espiões” o tempo todo. Ou, em versão moderna, os blogueiros
progressistas e o “politicamente correto” (que nunca se admite como tal,
apenas denuncia quem é “politicamente incorreto”), criticando os
humoristas “preconceituosos” contra o seu projeto de
Estado-Babá.
Nas “Viagens de Gulliver” de Swift
vemos um professor da Escola de Planejadores Políticos criando
mecanismos para descobrir complôs e conspirações lendo o pensamento
secreto das pessoas (seus “preconceitos”) através da análise de seus
excrementos,
“porque os homens nunca são tão sérios, pensativos e concentrados como quando estão na privada”.
A igualdade objetivada pela esquerda abole a individualidade de cada
um, e os planejadores tentam fazê-lo extraindo parte do cérebro de um
homem e enxertando-a na cabeça de outro.
Como George Orwell bem entende Swift,
“um
dos objetivos do totalitarismo não é apenas se certificar de que as
pessoas pensarão pensamentos corretos, mas na verdade torná-las menos
conscientes”. Afinal, há sempre uma tendência totalitária em quem
quer patrulhar discursos ao invés de se preocupar apenas com leis que
envolvam agressão (em verdade, são os primeiros a terem um discurso para
justificar agressões, no velho discurso da
esquerda que gosta tanto de bandidos). Orwell sabe que:
Numa sociedade sem lei e, em teoria, sem
compulsão, o único árbitro do comportamento é a opinião pública. Mas a
opinião pública, devido à tremenda necessidade de conformidade dos
animais gregários, é menos tolerante do que qualquer sistema de leis.
Quando seres humanos são governados por “não poderás”, o indivíduo pode
praticar certa quantidade de excentricidades: quando supostamente
governado pelo “amor” ou pela “razão”, acha-se sujeito a uma pressão
contínua para se comportar e pensar exatamente como todo mundo.
Pergunte a algum judeu sobre como era ser julgado por uma Alemanha dominada por nazistas.
Na última viagem de Gulliver, o país dos eqüinos houyhnhnms, ficamos sabendo que eles “eram unânimes em quase todos os assuntos. A única questão que discutiam era como lidar com os yahoos”,
seus inimigos. São iguaizinhos os politicamente corretos de hoje,
idênticos em tudo, nunca discordando de nada, e só tendo como assunto
possível o que fazer com os “reacionários” – os únicos existentes que
ainda impedem o “estágio mais avançado da organização totalitária, o
estágio em que a conformidade se torna tão generalizada que não há
necessidade de uma força policial”.
Este discurso patrulhador tem sempre uma
base que se acha “racional”, e por isso se considera a verdade, que
pode julgar os outros apenas tachando-os de “obscurantistas” ou
“preconceituosos”. Ou como resume maravilhosamente Orwell, se “já conhecemos tudo, então por que tolerar opiniões divergentes?”
O que essa polícia política dos pensamentos busca é o humor unidirecional.
É famosa noção moralista de Henfil, de que só é permitido rir do
“opressor”. É uma chave de interpretação da realidade fraca e,
justamente por isso, pedante. É uma dicotomia boba acreditar que a
humanidade se divide estanquemente entre opressores e oprimidos: um
motoboy consegue passar de um para outro umas 50 vezes em uma única
avenida.
Quando o “oprimido” pega em armas e
assalta o “opressor”, aí pode fazer piada? Quando um pobre fica famoso, o
rico desconhecido pode caçoar? Não existe esse humor unidirecional
focado em “peixes grandes”. O que se busca no Brasil (cuja tradição de
humor, ao contrário de países amantes da liberdade como a Inglaterra e a
América, é semi-nula) é o humor confortável. O humor que mantém o espectador feliz, em que o “humorista” diz: “Você, espectador, observe como eu tiro sarro dele” – e seguem piadas com celebridades, jogadores de futebol e políticos. Com as exceções.
Até tirar sarro de políticos, nesse humor anódino, sem sal nem açúcar, é
uma atitude conformista, boba e inútil. O espectador permanece
confortável, como se lesse um livro de auto-ajuda. Ele é o maioral, com
ele está tudo certo. Spoiler: não está. Não se sinta bem. Olhe bem para o lixo que você é.
O humorista no Brasil não tem capacidade
de rir de si próprio. A platéia morre de medo de ser confrontada com o
ridículo de sua própria situação – ou mesmo quando ela é engraçada sem
que haja nada desabonador em sua condição (se a moça entrasse no Guiness
por sua doação de leite sem que Danilo Gentili fizesse piada, não iriam
rir dela da mesma forma?).
Pior é acreditar que há liberdade e vantagem no humor unidirecional (ou seja, humor com fins político-partidários). Enquanto essas mal-traçadas são escritas, um humorista irlandês no Comedy Central comenta como reclamamos à toa da vida, quando ele viu gêmeos siameses na rua: “Imagine dois irlandeses tendo de compartilhar o mesmo fígado”.
Isso renderia quantos milhões de indenização nessa nossa terra
totalitária e viciada em Estado-Babá? E o que se diria de Louis C. K.
falando sobre as vantagens de ser branco, mesmo esclarecendo que não é
nada meritório, é apenas vantajoso? (mesmo justamente para dizer que,
sendo branco, sua vida é muito mais fácil)
Você pode não controlar o seu destino. Mas pode rir dele. É uma lição que a esquerda nunca entenderá.
Estes cafetões de minorias querem encontrar a vítima perfeita para poderem defendê-la. O que também permite momentos hilários, como o professor da ESALQ-USP que
mandou uma carta para a Folha reclamando de uma charge que mostrava um adolescente indo aos protestos depois de ter brócolis para comer.
“Essa
charge é um enorme desestímulo para o consumo de hortaliças no país,
que é de apenas 130 g por habitante/dia, enquanto a OMS recomenda 400 g”,
disse o professor. Eu sei que corro o risco de tomar um processo e
ferir o sentimento de muitas hortaliças Brasil afora, mas cometerei um
ato subversivo ao extremo: eu odeio brócolis. Essa minoria de vândalos.
Hortaliças, eu vos desprezo. Vocês pra mim não chegam aos pés do bacon.
Existe ainda um motivo gigantesco para o
totalitário odiar qualquer piada, sempre protegendo a vítima escolhendo
quem será o algoz: a piada permite a ironia, que
significa dizer uma coisa com o significado exatamente oposto. A comédia
grega tem desde a ironia socrática até a bobageira dos Trapalhões,
desde a fina mentira interior machadiana até o nonsense do Monty Python.
A ironia impede que o discurso seja unívoco, que se controle o que as pessoas pensam, que haja espaço para dúvida. A
novilíngua
que Orwell descreve em 1984 é justamente uma língua criada para que não
se possa falar mal do grande plano totalitário, em que todos são
felizes porque o Estado garante a felicidade. Não à toa que os discursos
de um totalitário como Fidel Castro são chatos e cheios de
lugares-comuns, repetição
ad nauseam de conclamação à luta e
culpa dos “inimigos” (americanos, espiões, embargo, imperialismo – sem
notar uma contradição entre estes últimos). Já os discursos de um
“reacionário” como Ronald Reagan eram piada atrás de piada. É possível
imaginar Trotsky, Hitler, Lenin, Mao, Mussolini, Stalin, Pol-Pot ou
outros totalitários rindo de si próprios?
Ora, afirmar sobre a doadora de leite
materno que “isto não é uma espanhola, é uma América Latina inteira”
pode ser o que todo ser humano conhece como uma cantada escrota.
Aquilo que é tanto uma frase baixa quanto um elogio, ao mesmo tempo.
Isso o totalitário odeia. E força a hipersensibilidade, para apenas
dizer que é ofensivo à opinião pública, que deve ser unívoca, livre de
ironia e de um espaço feliz, sem necessidade de encontrar protetores e
ofensores.
Se Gentili, ao invés de comparar a
quantidade de sua doação de leite com a de Kid Bengala, tivesse dito que
ela é um Ronaldinho dos negócios de doação de leite, seria ofensivo? E
se fosse com o Eike Batista? Aí já seria ruim? Como determinar quem pode
e quem não pode, o que é “peixe grande” e quem é “oprimido”, quem é
famoso e quem não é? (Escrever na internet torna alguém famoso?)
Claro, esses totalitários querem apenas fazer a
animalização da linguagem para, tal como cães cheirando as partes íntimas uns dos outros, determinar quem é da matilha e quem é de fora –
os inimigos,
julgados não por leis, mas pela opinião pública. Nenhum deles reclamará
de uma piada, a mais mordaz e mesmo ameaçadora, feita contra o próprio
Danilo Gentili, ou Reinaldo Azevedo, ou Rodrigo Constantino, ou Olavo de
Carvalho, ou qualquer um que “não seja da minoria” (mesmo que,
numericamente, sejam uma minoria minúscula).
Quando Bill Maher comentou com um
sorriso enorme nos lábios o caso de um louco que entrou atirando em uma
instalação do Exército, matando 7 oficiais pais de família, e apertou os
olhos dizendo: “Nessas horas, nos perguntamos: por que não foi na casa de Glenn Beck?”,
ninguém dessa patrulha que se ofende com uma piada sobre amamentação
chiou. Mas experimente fazer o mesmo com uma feminista, um esquerdista,
um ativista dos movimentos LGBT ou negro (que, como se vê, têm menos de
10% de preocupação com negros, 90% com controle).
A Stasi do humor
“Se esquerdistas gostam, é subsidiado; se não gostam, é proibido.”
— Ann Coulter
Alex Castro escreveu uma carta aberta
aos humoristas, pedindo (ou “desafiando”), em suma, que eles não façam
piadas com mulheres, negros e gays, porque estes três grupos (os
escolhidos da vez) podem morrer mais facilmente com piadas (sim, isto é
sério). Segundo ele, piadistas são cúmplices de assassinatos. A
feminista Lola Aronovich, seguindo o encalço, classificou que todos os
libertários são “reaças” que não querem se assumir como são (inventando
conceitos de sua própria cabeça, como uma suposta divisão entre liberals e libertarians na América, ou afirmando que são todos brancos do Tea Party, num “argumento” extremamente racista).
Castro dispara: “Se é pra sacanear alguém, sacaneie os poderosos, e não os subalternos”. É novamente a chave opressor-oprimido.
Na verdade, é uma linguagem marxista até o último furúnculo pregando a
luta de classes (poderosos x subalternos), mas que não tem coragem de
assumir o que é: comunista. Estranho que a feminista
Lola Aronovich, assumidamente de extrema-esquerda, com o perdão da
redundância, diz que são os “reaças” que não têm coragem de se assumir
como “reaças”, se é gente como Lola Aronovich que nunca assume o que é: comunista.
Comunista como Pol-Pot. Comunista como
Stalin. Comunista como Mao. Comunistas, aqueles que mataram, na mais
heterodoxa das contas, 7 pessoas para cada pessoa que os nazistas
mataram. O que há de bom a se falar dos comunistas? Eles mataram mais do
que os nazistas. Apenas, ao contrário destes últimos, aprenderam a
falar com eufemismos.
Mas Lola acha que os reacionários,
aqueles que eram jurados de morte pelos nazistas e pelos comunistas, é
que são o atraso. São “nojentões”. Eles é que têm vergonha de se admitir
reaças. Uma tese que difícil de comprar enquanto Lola não se admitir
comunista como Pol-Pot.
Totalitários como Lola Aronovich e Alex Castro só aceitariam um humor que “não representasse uma ameaça ao público ou à sua visão de mundo”. O humor nádegas, o humor anódino, o humor funcionário público. É a consubstanciação do humor unidirecional:
só vale piada com quem Castro e Aronovich não vão com a cara. Com o
resto fica proibido. Tudo dividido entre quem eles chamam de “opressor” a
seu bel-prazer, e quem chamam de “oprimido” conforme reze ou não pela
sua cartilha política.
Mesmo que precisem se contradizer, o que
importa é sempre delimitar onde está o grupo deles (os bacanas, os boas
praças, os progressistas, os batutinhas, os
sou-de-esquerda-mas-não-sou-comunista) e os inimigos (os reacionários, os preconceituosos, os ultraconservadores, os obscurantistas, os atrasados).
Por exemplo, se é para “defender” a
maior doadora de leite materno do país, Lola a chama de heroína e diz
que ela salva vidas. Não importa que no mesmo texto defenda o aborto sem
querer discutir se um feto é uma vida ou não: aí passa-se
automaticamente a entender que “salvar vidas” só vale para quem está
contra Gentili, e as mesmas vidas que podem vir a precisar do leite de
Michele não podem nem ter seu status discutido: não são vidas e, se
forem, que morram às mancheias, porque devemos legalizar o direito de
assassiná-las em massa. Lola, a pro life de primeira viagem.
HOJE a esquerda defende liberação das
drogas. E é por um motivo político bem especifico que nada tem a ver com
LIBERDADE (nem de mercado, nem individual). HOJE a esquerda defende
direitos homossexuais. E por um motivo político bem especifico que nada
tem a ver com liberdade. Até ontem eles fuzilavam homossexuais em Cuba,
na União Soviética, etc. Não sejam inocentes. Todos os caminhos da
esquerda levam a centralização do Estado. Se eles precisarem pegar
carona no discurso da liberdade pra isso, eles farão. Liberdade de
culto, de mercado, individual não são valores da Esquerda, pelo
contrário! (…) Eles são combativos com várias liberdades individuais e
qualquer experiência histórica que tentou implementar tal visão terminou
em desgraça. Um autor liberal não precisa dizer que é de direita para
se posicionar contra a esquerda. Basta dizer que é a favor da liberdade.
Já Alex Castro em sua carta aberta é
mais claro em dividir as pessoas não pelo que elas têm em sua cabeça,
pelos seus atos ou por seus méritos: só importa cor de pele, parceiro
sexual e gênero. E se zoarmos a ruindade estética, ética e mesmo
ontológica que é Alex Castro? Somos opressores ou oprimidos? Alex Castro
escreve muito mal. Qual o limite do humor quando se zoa deficientes
profissionais de uma posição muito superior na cadeia alimentar? Diz
ele:
“Dez mulheres são assassinadas por dia
no Brasil, colocando-o no 12º lugar no ranking mundial de homicídios
contra a mulher. Uma em cada cinco mulheres já sofreu violência de parte
de um homem, em 80% dos casos o seu próprio parceiro.”
Caso curioso.
O Brasil é campeão de assassinatos no mundo (mais de 50 mil homicídios dolosos por ano).
O Brasil segue a cartilha esquerdista de combate ao crime:
não pune nem 3% dos crimes de sangue. A principal vítima dos crimes são
homens entre 15 e 35 anos. Para cada 9 homens assassinados, há apenas
UMA mulher.
Como
fica então o caso de uma mulher, branca e rica, com discurso
esquerdista, falando de violência? Um homem não pode se ofender
mortalmente com essa criatura ditando regras sobre segurança pública e o
SEU (dela) papel de vítima? Certamente que não. Pela chave biconceitual
de nossos esquerdistas (que nunca pensaram que o mundo possui mais do
que 2 conceitos,
do contrário não seriam esquerdistas), se analisamos um homem e uma mulher, a mulher é sempre a vítima. Afinal, somos o
“12º lugar no ranking mundial de homicídios contra a mulher”. Só “se esquecendo” de que somos o PRIMEIRO LUGAR NO RANKING MUNDIAL DE HOMICÍDIOS CONTRA O HOMEM.
Fazer piada com o estereótipo de que todo esquerdista é asnaticamente pereba em matemática pode?
Alex Castro nos dá a resposta: “Riu? É, mas não tem graça. A solução está na mão dos homens.” Sabe
o que não tem graça, Castrinho? O quanto a esquerda (incluindo os
irmãos Castro em quem você se inspira) matou no mundo. Por isso livros
como Arquipélago Gulag são tão pouco engraçados. E por isso
nós, os “reaças”, estamos preparados para um mundo no qual sempre
estaremos desconfortáveis com tanta baixeza moral vinda de nossos
adversários.
Mas são profundos esses analistas
moralistas ditadores do que devemos ou não fazer. Castro culpa não uma
porcaria de um assassino, e sim uma “cultura machista” que mata
mulheres. Ou seja, não existem assassinos e não-assassinos: existe uma
“cultura machista” que mata através de assassinos particulares.
E, lógico, os humoristas estão “reforçando” esse risco que atinge “as
mulheres” – afinal, homens não são vítimas de nada, no Fantástico Mundo
da Imaginação da Esquerda:
“Se você faz piadas que confirmam os
lugares-comuns dessa cultura machista, que objetificam a mulher, que
estigmatizam seu comportamento sexual, então você possibilita e reforça
essa cultura assassina.
Você é cúmplice.”
Tão cúmplice que, ao contrário dos
esquerdistas, quero punição a qualquer agressor, não só aos agressores
dos meus amigos, e aos inimigos que vão pro inferno.
Basta lembrar de como agem os
esquerdistas tão amáveis ao Alex Castro (essa turminha que acha ofensivo
e manda apagar se você faz uma piadinha com o tamanho do peito de uma
mulher, e acha que isso faz parte da “cultura machista”, a mesma de quem espanca, estupra e mata mulheres por aí).
O
Zé Oswaldo lembrou disso em sua página.
Em 2013 um PM desastrado acidentalmente matou um jovem da zona norte
durante um enquadro, e em retaliação fecharam acessos de estradas,
saquearam e destruíram caminhões de carga.
Já em 2011 um aluno da USP foi morto no
estacionamento durante um assalto motivado por drogas por um morador da
favela São Remo. Os esquerdistas que dominam as instituições políticas
daquela Universidade não saquearam a comunidade nem fecharam as ruas de
acesso.
Na verdade, como
também lembramos aqui,
no dia seguinte a seu assassinato, a Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH) da USP acordou com uma enorme faixa conclamando
a todos para a Marcha da Maconha. Nem uma palavra sobre um ser humano
assassinado num estacionamento do outro lado da rua.
Aliás, é notável ver a explicação
castreana para as vítimas dos homicídios serem negros (sem nunca cotejar
os dados, que ele mesmo passa, com os dados de violência contra a
mulher): claro, se negros morrem, é por racismo. Nunca Castro pergunta
se quem mata são brancos, se os motivos são racistas, se está
acontecendo uma guerra racial no Brasil que mate 12 vezes mais negros do
que homens.
Os fatos são chocantemente óbvios para
qualquer um que já viu pobre de perto, e não em livro de sociologia
vagabunda: se existe uma cultura de violência, ela não é racial, nem de
gênero e nem de opção sexual – o tripé da esquerda para explicar toda a
realidade (de Jane Austen a criminalidade em favelas, onde a maior parte
da população é negra).
Esta simplesmente explode nas áreas
menos seguras e com menos policiamento por habitante das cidades. As
regiões pobres. E se morrem muitos negros e não tantos brancos, não é
porque brancos matam negros. Pelo contrário, crimes devidos a racismo
são raros no Brasil, onde quem cai na cultura da criminalidade são os
mais pobres, incluindo muitos negros. Para Castro, é fácil repetir e
repetir castreanamente o discurso de que “os negros são mortos em proporções tão altas (…) porque existe uma cultura racista no Brasil”. Difícil é mostrar que são os brancos que estão matando os negros.
É a típica superstição de quem só tem
dois conceitos para encarar a realidade: brancos racistas e negros
vítimas. Aliás, sabe o que é superstição? É um negão voador. Hahah. Foi
parte da cultura racista? Matou algum amigo negro por aí?
Depois,
esse pensamento de ameba não verá contradição nenhuma quando encarar a
população carcerária: na verdade, aí vai dizer que prendem mais negros
por causa da “cultura racista”, sem notar a contradição com o fato de
mais negros morrerem, e que isso nada tem a ver com o racismo. Para a
matemática esquerdista, quando dois fatos se contradizem, usam o mesmo
discurso nos dois lados, e ainda dizem que eles se reforçam. 0 + 0 = 2.
Castro cita uma piada de Danilo Gentili que causou certo furdunço há algum tempo. Gentili postou em seu Twitter: “King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”
A ONG Afrobras (?) chiou. Afirmou que a piada “desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia” (?!). Gentili respondeu muito mais à altura: “Na
piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu
com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito.” E foi além:
“Se você me disser que é da raça negra,
preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores
de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita
nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra,
pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e
desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo
no mesmo?
Quem propagou a ideia que “negro” é uma
raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender
os pretos como escravos: “Podemos tratá-los como animais, afinal eles
são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra”.
A resposta inteira (e genial até a última linha) pode ser lida
aqui.
A sanha de repetir a aleivosia
chatérrima para explicar TUDO (Castro honra mesmo o sobrenome-pseudônimo
que arrumou para si, com seus discursos morosos, gigantescos,
moralistas, sempre culpando o mesmo inimigo, mentirosos e extremamente
mal escritos) prossegue com os gays. Afirma:
“Em 2010, foram mortos 260 homossexuais
no Brasil, 62 a mais que em 2009 (198), um aumento de 113% desde 2007
(122). Nos EUA, com 100 milhões a mais de habitantes, moram mortos 14.
Um homossexual brasileiro tem 785% mais chances de morrer vítima de
violência que um norte-americano.”
Nem lemos o restante. Sabemos que é tudo
culpa da piadinha da bicha que entra no banheiro público e vê um
corcunda com um jaramaralho enorme. E que nós somos cúmplices, por causa
da “cultura homofóbica”. E nem é difícil imaginar o que vão afirmar os
moralistas torrando o saco dos humoristas, com Gentili como
public enema number one.
(afinal, é o “humorista reaça”): que é culpa da Igreja por achar que
homossexualismo é pecado (mesmo com o papa falando que somos todos
pecadores e devemos perdoar, mas que esquerdista lê antes de dar
opinião?), que nossas piadas ajudam no genocídio de gays.
Falta só mostrar como é que 260
homossexuais mortos num país que mata CINQÜENTA MIL pessoas por ano é…
bom, culpa da homofobia brutal (pior: a maior parte desses crimes, assim
como no caso das mulheres, é cometida pelos parceiros das vítimas; ou
seja, por outros gays). Aliás, foi o próprio Gentili que soltou uma
piada ótima sobre isso: temos 50 mil homicídios por ano e mataram 260
gays. Alguém aí comeu minha bunda hoje? Só por segurança.
Piada de gaúcho pode? Mesmo de Pelotas? Vamos perguntar ao ex-presidente preferido dos esquerdistas:
Você viu quantos esquerdistas reclamando
dessa piada até hoje? Dizendo que faz parte da “cultura da homofobia”?
Criticando o obscurantismo do ex-presidente? Afirmando que é um ataque à
minorias e que não tem nada de transgressor em ser “preconceituoso”?
Que não foi ousado nem criativo? Que perpetua as diferenças? Que é
babaca ser politicamente incorreto?
A resposta é simples: nenhum. Porque
querem um humor unidirecional. Um humor útil politicamente. Um humor
manjadão, inofensivo, e que só ataque o grupo que eles querem atacar.
Pode não ser você hoje. Mas pode ser você amanhã.
Piada contra o Danilo Gentili pode. Contra o Reinaldo Azevedo, o Olavo de Carvalho, o Rodrigo Constantino. Piada contra a
“classe média”,
contra o “coxinha” (já por si uma piada ofensiva), o religioso (mesmo o
pobre, que se dane, ninguém mandou ser religioso), o inofensivo, que só
quer dar uma risada com uma bobeira no fim do dia.
Mas se você fizer uma piadinha que um
esquerdista possa explorar pelo tripé gênero-raça-sexualidade (aquele
sempre usado na academia, tão maravilhosamente denunciado por Roger
Kimball em
Radicais nas universidades: como a política corrompeu o ensino superior)…
Aí o esquerdista vai reclamar. E dizer que é seu salvador. E dizer para
você se ofender, mesmo que você antes estivesse pouco se lixando.
Afinal, só com a sua agenda de Estado forte e interventor podemos
impedir que alguém nos deixe infelizes, acabando para sempre com a
ofensa – afinal, todos pensarão o mesmo com seus cérebros misturados.
No fim, não vai haver mesmo muita diferença entre você e um brócolis.
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